Se é verdade que, até 2005, Santa Maria parecia livre do crack e não havia registro de usuários na cidade, oito anos depois, a realidade é bem diferente: não há como mensurar com exatidão o número de dependentes da droga, e o aumento nas apreensões do entorpecente podem refletir um crescimento do tráfico. Para se ter uma ideia, em todo o ano de 2009, a Polícia Civil apreendeu cerca de 7 quilos de crack no município. No decorrer de 2013, as apreensões ultrapassaram 15,5 quilos (veja quadro na página ao lado). Isso demonstra que, em cinco anos, o número de apreensões de crack mais do que dobrou na cidade.
De acordo com o delegado Sandro Meinerz, titular da Delegacia Especializada em Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec), esse crescimento da venda da droga em Santa Maria tem dois motivos: um grande público jovem (pesquisas apontam que os jovens são mais propensos a experimentar drogas) e a grande oferta do produto na cidade.
Além disso, outros fatores fizeram com que Santa Maria se tornasse um polo regional de distribuição de drogas:
_ Entre eles, está a posição geográfica, já que a cidade está localizada no centro do Estado, tem público-alvo grande, e a rede viária que circunda a região facilita a distribuição. Antes, a droga vinha de Júlio de Castilhos e Tupanciretã. Hoje, faz o caminho inverso. Santa Maria abastece a da Quarta Colônia, Santiago, São Gabriel e outras cidades da região _ afirma Meinerz.
Prejuízo dos traficantes com apreensões chega a R$ 500 mil
Atualmente, a venda de cada quilograma da droga pode se reverter em até R$ 12 mil de receita para os fornecedores. Com as apreensões realizadas pela polícia nos últimos cinco anos, o prejuízo aos traficantes da região beira os R$ 500 mil. Mesmo assim, a cifra está longe de pôr fim ao problema. Conforme Meinerz, para que uma rede de tráfico seja desestruturada, a polícia demanda tempo e recursos. O delegado exemplifica que, em 2012, a Defrec apreendeu 130 kg de maconha na cidade. Mas, para chegar a esse resultado, foram necessários dois anos de investigação:
_ No momento em que começam a se formar redes, o tráfico se estrutura, e o negócio começa a funcionar como uma empresa. Os traficantes da ponta da estrutura, na medida em que são presos, tornam-se descartáveis. O vendedor da droga vai preso e, logo, outra pessoa assume a sua função. Para o tráfico, o mais importante é manter o ponto de venda, o território _ diz o delegado.
Apesar das apreensões, o crack ainda preocupa a polícia. Conforme Meinerz, se a dependência seguir com o avanço atual, em quatro ou cinco anos, todas as famílias de Santa Maria terão um integrante com dependência da droga. Além disso, a violência tende a aumentar também:
_ Hoje, a maioria dos homicídios registrados na cidade tem alguma relação com as drogas. Quando temos a incidência do tráfico, há um crescimento estatístico no numero de furtos e roubos. Não há bolso que resista ao consumo do crack. Mas é importante ressaltar que o crack não é um problema da periferia. Seu consumo atinge todas as classes sociais e faixas etárias. Sei de pessoas que usaram cocaína moderadamente por 30 anos. Ela experimentou o crack e perdeu o controle _ diz o delegado.
Crack, a droga dos reflexos sociais
Para entender a complexidade que envolve o tráfico de drogas no Brasil, é necessário passear por questões que vão além da frieza dos números. O titular da delegacia de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas, Sandro Meinerz, relembra que, historicamente, o tráfico de drogas como é conhecido hoje, de forma organizada, consolidou-se nos morros cariocas. Décadas depois e a centenas de quilômetros de distância da Cidade Maravilhosa, as armas dos traficantes são as mesmas.
De acordo com o delegado, na maioria das vezes, os traficantes se aproveitam dos problemas estruturais e econômicos das pessoas, em especial nas periferias, para aliciar n